À medida que as primeiras experiências moldam a arquitetura do cérebro em desenvolvimento, essas experiências, também estabelecem as bases para uma boa saúde mental. Interrupções nesse processo de desenvolvimento podem prejudicar as capacidades de uma criança para aprender e se relacionar com os outros – com implicações ao longo da vida. Ao melhorar o ambiente e as experiências das crianças no início da vida, a sociedade pode resolver muitos problemas, incluindo internamentos e o fracasso na Escola.

Problemas significativos de saúde mental podem ocorrer e ocorrem em crianças pequenas. As crianças podem mostrar características claras de transtornos de ansiedade, transtorno de défice de atenção/hiperatividade, transtorno de comportamento, depressão, transtorno de stresse pós-traumático e deficiências do neuro-desenvolvimento, como autismo, numa idade muito precoce. Dito isto, crianças pequenas respondem e processam experiências emocionais e eventos traumáticos de formas muito diferentes dos adultos e crianças mais velhas. Consequentemente, o diagnóstico na primeira infância pode ser muito mais difícil do que em adultos.

As experiências deixam uma “assinatura” química nos genes que determina se e como os genes são expressos.

A interação dos genes e experiência afeta a saúde mental infantil. Os genes não são o destino. Os nossos genes contêm instruções que dizem ao nosso corpo como funcionar, mas a “assinatura” química do nosso ambiente pode autorizar ou impedir que essas instruções sejam executadas. A interação entre predisposições genéticas e experiências sustentadas e indutoras de stresse no início da vida pode estabelecer uma base instável para a saúde mental que perdura até a idade adulta.

O stress tóxico pode danificar a arquitetura do cérebro e aumentar a probabilidade de problemas de saúde mental, significativos, surgirem rapidamente ou anos depois. Devido aos efeitos duradouros no desenvolvimento do cérebro e de outros sistemas orgânicos, o stresse tóxico pode prejudicar o desempenho escolar e a saúde física e mental ao longo da vida. Circunstâncias associadas ao stresse familiar, como pobreza persistente, podem aumentar o risco de problemas graves de saúde mental. Crianças pequenas que sofrem abuso recorrente ou negligência crónica, violência doméstica ou problemas de saúde mental dos pais ou abuso de substâncias são particularmente vulneráveis.

Nunca é tarde demais, mas antes é melhor. Alguns indivíduos demonstram capacidades notáveis para superar os graves desafios de maus-tratos precoces e persistentes, traumas e danos emocionais, mas há limites para a capacidade de crianças pequenas se recuperarem psicologicamente da adversidade.

Mesmo quando as crianças foram retiradas de circunstâncias traumatizantes e colocadas em ambientes seguros, as melhorias no desenvolvimento são frequentemente acompanhadas por problemas contínuos de auto-regulação, adaptabilidade emocional, relacionamento com os outros e auto-compreensão. Quando as crianças superam esses fardos, geralmente são beneficiárias de esforços excepcionais por parte de adultos que as apoiam. Esses achados ressaltam a importância da prevenção e intervenção oportuna em circunstâncias que colocam as crianças em sério risco psicológico.

É essencial tratar os problemas de saúde mental de crianças pequenas no contexto familiar, lares e comunidades. O bem-estar emocional das crianças pequenas está diretamente ligado ao funcionamento dos seus cuidadores e das famílias em que vivem. Quando esses relacionamentos são abusivos, ameaçadores, cronicamente negligentes ou psicologicamente prejudiciais, eles são um potente fator de risco para o desenvolvimento de problemas de saúde mental precoces. Em contrapartida, quando os relacionamentos são confiáveis e responsivos, podem realmente proteger as crianças dos efeitos adversos de outros stresses. Portanto, reduzir os stresses que afetam as crianças requer abordar as tensões nas suas famílias.

Tradução livre.

Fonte: Center On the Developing Child, Harvard University. Original aqui.