Pare de entreter a criança (deixe-a brincar livremente)

É muito fácil os pais caírem na armadilha de terem de entreter os filhos a toda hora. Há uma cultura muito forte em torno da ideia de que as crianças devem estar sempre entretidas. Mas será que isso é positivo para o seu desenvolvimento?

Em conversa com uma amiga, que foi mãe recentemente, ela contava que, tem tentado de tudo para entreter a bebé de 3 meses, assumindo que era esse o seu dever - entretê-la. Pois, isso fazia com que a bebé permanecesse quieta, (o que era tudo o que esta minha amiga achava que ela poderia ser passiva). Esta ideia da passividade é uma ideia, ainda, muito presente na nossa cultura, bebé sossegadinho é bonzinho, bebé agitado é difícil (isto para não dizer outras coisas que se dizem por aí). Ouvi atentamente, e sugeri que a colocasse apenas deitada de costas numa manta no chão, ideia que a minha amiga estranhou, mas prometeu experimentar. Dias depois, recebo uma mensagem de surpresa e gratidão, pois a bebé ficava satisfeita nessa posição e apenas deitada o chão, a mexer os braços e as pernas e por bastante tempo!

Isto pode de facto gerar surpresa para quem não entende de desenvolvimento infantil, mas não há nada mais natural que isto, os bebés gostam e necessitam de estar livremente, em segurança, deitados no chão, isso promove o desenvolvimento sensorial, o movimento e, ajuda-os a conhecerem-se melhor, bem como, o espaço, pois quando estão nessa posição estão a observar-se, mas também a observar a casa, quem lá está, os sons, os cheiros, ou seja a absorver o seu mundo.

Muitas vezes, a vida empurra-nos para o modo piloto automático e a vida de uma jovem mãe pode ser bastante caótica e mais permeável para fazer as coisas de uma forma automática ou porque “sempre se fez assim”, ou porque a mãe, a tia ou a sogra dizem que assim é que é. Tudo bem! Todas passamos por isso em algum momento da maternidade. Aquilo que Montessori nos ensina em primeiro lugar é observar a nossa criança, isso e já um passo de gigante. Se observar o seu bebé, com tempo, em vez de fazer tudo a correr, vai conhecê-lo muito melhor, aproveitar os momentos da rotina de higiene, por exemplo, tudo isso pode ser aproveitado para realmente observar. Além disso, a observação é uma via mais que certa para a criação da conexão, entre pais e filhos, tão importante nos primeiros anos de vida.

Confiar nos nossos bebés, sim, mas não é fácil!

Há muitos estudos que indicam que devemos confiar nos nossos bebés como aprendizes capazes e ativos, a pedagogia Montessori é diligente nessa premissa, mas a bem dizer, uma coisa é dizer outra coisa é realmente permitir e confiar cem por cento nesse ideal. As crianças estão no processo de ganhar independência e descobrir o seu poder e, por isso, continuam tentando e tentado até encontrarem os nossos limites – testando o que é preciso para nos fazer pular da cadeira, ou soltar um grito (ás vezes de susto). O que temos de pensar é, as crianças não nos testam, embora pensemos muitas vezes que sim, elas estão apenas a desenvolverem-se e, por isso, têm de fazer coisas, não podem ficar simplesmente paradas, como ás vezes gostaríamos. Precisam de pular, saltar, cair, experimentar beber água do copo, sujar-se, sem isso, não há aprendizagem e, por sua vez, o desenvolvimento fica comprometido. Aceitar que as crianças são assim é um passo para a mudança e, sobretudo, deixar de lado aquela ideia que a criança boazinha é a passiva e mázinha é a ativa.

O meu filho não pode brincar sozinho

O crescimento trás novos desafios, o bebé que gatinha passa a andar, o que anda, passa a correr, a saltar, falar, a questionar e de repente já é uma criança. Foram muitas mudança pelo qual passou desde que nasceu, as exigências da nova fase ou idade pode levar-nos à conclusão que precisam de nós naquilo que de mais livre as crianças deveriam ter - a brincadeira.

Como pais, também podemos ser reticentes em afirmar as nossas próprias necessidades e desejos, porque queremos evitar confrontar as fortes emoções dos nossos filhos e acabarmos pode ceder ao pedido (constante) para brincar, sabemos bem que há crianças que podem ser bastante solícitas de companhia para brincadeiras. De qualquer forma, querendo fazer o bem, podemos acabar por fazer, algo que não é nossa intenção, ou seja, contribuir para que os nossos filhos “desaprendam” a brincar.

Alguns passos importantes para libertar as crianças (e nós mesmos) das dependências de brincadeiras e da obrigação de entreter:

1- Seja menos intrusivo

Facto pouco conhecido: quando nos sentamos em silêncio e somos passivos, mas recetivos e atentos aos nossos filhos enquanto brincam, eles sentem-se satisfeitos pela nossa companhia (se não mais) do que quando estamos ativamente envolvidos na brincadeira. É uma experiência profundamente válida para as crianças.

Quando os adultos brincam com as crianças, no sentido convencional, quase sempre acabamos direcionando, dominando ou pelo menos alterando um pouco o curso da ação.

Aprender a ser um “apoio” em vez de um companheiro de brincadeira requer prática, envolve observação sensível, mente aberta, aceitação e, acima de tudo, contenção (especialmente para aqueles mais inclinados a fazer, do que assistir).

2- Quando e como devemos responder para não interromper a brincadeira dirigida pelos nossos filhos?

Simplesmente, recebemos as dicas deles, esperamos que eles solicitem a nossa opinião, o que geralmente fazem quando olham para nós ou se expressam verbalmente.

Por exemplo, digamos que o nosso filho está a empilhar blocos e os blocos caem. Se ele não olhar para nós, provavelmente, é melhor não dizer nada. Se ele olha para nós, ou talvez a ouçamos gemer, então diríamos : “Eu vi isso. Quando tentaste colocar o bloco vermelho em cima, o verde e o azul caíram.” (descrevendo o que aconteceu, sem dizer- erraste).

3- E se meu filho pedir ajuda?

Nunca diga não a um pedido de ajuda! Mas faça muitas perguntas e ajude o mínimo possível.

Usando o exemplo da torre de blocos, pode aproximar-se do seu filho e perguntar:

“O que estás a tentar fazer?”

“Quero fazer uma torre.”

“Tens os blocos azuis e amarelos empilhados aqui, qual o bloco que queres usar a seguir?”

"Aquele."

“Ok, então vamos ver como vais colocar aquele verde em cima do amarelo…”

Normalmente, esse tipo de apoio é toda a ajuda que as crianças precisam.

4. Estabeleça limites com confiança, honestidade e respeito

“Eu sinto como se estivéssemos quase que a impor tempo de “jogo independente”, todos os dias, para que ele eventualmente aprenda a jogar sozinho.”

Se fosse possível forçar o jogo independente, isso anularia todo o propósito. A ideia é brincar, a não ser que não o queira por opção. Mas cabe a nós largar essa tarefa de capitães do “entreter”. A criança que choraminga: “ Mãe brinca comigo, mãe quando podes brincar” está apenas a fazer a sua parte, tentando uma resposta direta de nós sobre os nossos limites. Em troca, o nosso papel é antes:

Seja claro – transmita confiança : “Vou fazer algumas coisas na cozinha” (é importante dar essa informação para saberem onde estamos, há crianças que se sentem inseguras se não souberem onde estamos (mesmo que saibam que estamos em casa).

Ofereça uma escolha, se possível : “Queres ajudar-me a preparar a salada ou vais brincar no teu quarto?”

Reconheça sentimentos e desejos : “Eu sei que tu queres que eu continue a brincar contigo. Sei que estás aborrecido. Mas, podemos brincar mais um bocadinho depois de jantar. “

Ofereça ao seu filho um Espaço SIM, pode ser uma área de lazer 100% segura contendo brinquedos ou objetos que possa mexer e brincar à vontade.

5 . Incentive a brincadeira com a mente mais ativa possível

Quanto mais tempo as crianças passam no modo passivo-receptivo, menos hábeis e confortáveis elas estarão a brincar de forma independente. Então…

  • Evite o uso dos ecrãs ou mantenha-os o mínimo possível

  • Ofereça brinquedos e objetos simples que contribuam para uma brincadeira mais ativa e criativa

  • Em vez de oferecer atividades lúdicas específicas, espere que as crianças inventem as suas próprias

  • Não tenha medo do tédio (o tédio faz parte da vida)

  • Deixe as crianças fazerem o que escolherem (ou não fazer nada) ser o “suficiente”

Lembre-se destas regras de ouro :

Quanto MAIS fazemos (ou os brinquedos fazem):

  • Menos a criança faz

  • Mais a criança pensa que precisa de nós (ou brinquedos) para fazer por ela

  • Menos confiante, capaz, criativa e realizada a criança se sente


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Inspirado em: Janet Lansbury “Elevating Child Care”, original em www.janetlansbury.com

Mara Alves

Mãe. Educadora Montessori pela Association Montessori Internationale. Formadora, oradora e consultora.

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