A melhor forma de ensinar um bebé a andar é não o ensinar

Há um mito entre pais educadores, a ideia generalizada que a criança necessita de ser ajudada para andar, com treinos, e artefactos como as aranhas etc (hoje sabe-se o quão prejudiciais são para o desenvolvimento). O que a ciência nos diz é que a criança só andará de facto quando estiver preparada, ela andará porque essa é a sua natureza, andará por imitação e não por a treinarmos! Assim, mais do que ajudar a criança a andar, devemos sim permitir que ela ande sozinha.

Às vezes, mães e pais ficam ansiosos para ver os seus bebés passarem à próxima etapa. Quando na realidade, o bebé não tem pressa. Cada bebé é um indivíduo, que tem o seu tempo e se ainda não gatinha ou anda, não quer dizer que esteja algo errado. Claro, que em caso de dúvida, os pediatras estão aí para despistar problemas e esclarecer os pais.

Por aqui, destacamos alguns pontos chave baseados em Montessori a ter em consideração sobre o desenvolvimento dos bebés:

1- A intervenção do adulto "estimulando" ou provocando posições que o bebé não domina, interfere no desenvolvimento. Controlo do corpo no espaço, o domínio do equilíbrio, são experiências muito íntimas; ninguém de fora pode determinar qual é a hora de colocar a criança nesta ou naquela posição. Maria Montessori disse que quando ajudamos desnecessariamente isso é um obstáculo ao desenvolvimento .

2. A liberdade, permitir que o bebé exerça todos os seus movimentos em liberdade, tornará mais fácil para o bebé construir, por si mesmo, a sequência de posturas e movimentos que o levarão da posição horizontal à vertical. Se tiver presa num parque ou aranha como vai exercer isto!?

3. Deixá-los aprender sozinhos influencia positivamente na confiança e autoestima dos bebés. Essa experiência de controlo do corpo,de equilíbrio,de exercício de iniciativa própria, tem alto impacto no desenvolvimento emocional da criança. O vínculo caloroso e seguro com os pais e com quem os cuida, bem como, a consciência por parte desses mesmos adultos em permitirem o bebé agir é de extrema importância, isso é permitir que a criança desenvolva autoconfiança, com a segurança emocional que necessitam e com o respeito pelas suas conquistas.

4.Todos os bebés passam pelos mesmos estágios, mas em momentos diferentes: isso acontece, por exemplo, na sequência da posição de rolar, gatinhar, ou ficar de pé e andar. Há bebés que o fazem mais cedo e outros mais tarde.

5.O importante não é quando crianças fazem o que fazem, mas como fazem: com segurança, confiança, donos dos seus corpos. Os ritmos são diferentes: a marcha é geralmente dada entre os nove e dezoito meses. Os que andam aos nove são os “precoces”; aqueles que fazem isso aos dezoito estão “atrasados”. Quando, na verdade em média, geralmente, os bebés começam a andar aos dezasseis e não doze meses, conforme indicado por muitas tabelas de desenvolvimento.

6. Respeitar o desenvolvimento autónomo da criança e não interferir na colocação da criança em posturas que ainda não domina: todas as crianças vão gatinhar, sentar, ficar de pé e andar. Repare como rastejam pelo chão quando sentados, esse rastejo é precedente ao gatinhar, normalmente.

7. Quando falamos em autonomia da criança, é importante reconhecer a criança como um ser de ação e não apenas de reação desde os primeiros anos. Quando nasce um bebé, a nossa casa deverá ser adaptada a ele, devemos pensar no seu conforto e segurança, mas também de como o apoiar a ganhar autonomia, a fazer as coisas por si, ter essa oportunidade é a maior atitude que podemos ter pelo novo ser que chega ao mundo. Olhar o bebé com olhos de ver, observá-lo dar-nos-à tanta e valiosa informação sobre as coisas que gosta, a forma como come, como dorme como se expressa tudo isso é ouro e são todas as pistas que precisamos de saber acerca do desenvolvimento.

Falar sobre autonomia é tomar a decisão de respeitar os tempos, os ritmos, os seus desejos e necessidades da criança, sem tentar impor os nossos.

No livro, Educate for a New World, a Dra. Maria Montessori escreveu:

Quando finalmente aprende a ficar de pé sem ajuda, a criança fica com o pé inteiro no chão, agarra-se às saias da mãe para andar; em pouco tempo caminhará sozinha e ficará satisfeita com esta nova conquista que a leva à sua independência. Nesse ponto,toda tentativa dos adultos em ajudar a criança torna-se um obstáculo ao seu desenvolvimento.

Toda ajuda desnecessária é um obstáculo ao desenvolvimento. Deixá-los aprender por conta própria impacta positivamente a confiança e a autoestima de nossos filhos.

 

Um novo olhar sobre a criança, um olhar em que a reconhecemos como uma pessoa na prática pode ser difícil pois a nossa cultura, educação e sociedade demonstram exatamente o contrário,mas se tudo isto lhe fez sentido e se gostava de mudar. Venha connosco e faça a formação junto com outros pais e profissionais de educação - Programa Adulto Preparado.

 

Mara Alves

Mãe. Educadora Montessori pela Association Montessori Internationale. Formadora, oradora e consultora.

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